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AURORA SANTOS

( Coimbra – Portugal )

 

Aurora Tonela dos Santos nasceu em Coimbra, Portugal, a 22 de janeiro de 1938.
Desde muito nova que escreve prosa e verso, colaborando em numerosos jornais do país, de Moçambique e do Brasil.
Fez o curso liceal na Figueira da Foz e em Coimbra, iniciando nesta cidade do curso universitário em Letras e Direito, continuando em Lisboa. Estudou pintura, frequentou um curso de arte no Museu Machado de Castro. Estudou francês e inglês.

 

MÁKUA Antologia Poética 2.  Direção de Geraldino de Andrade e Leonel Cosme.   Sá de Bandeira, Portugal: Gráfica de Huila Ltda,
1963.                                                Ex. bibl. Antonio Miranda

 

DESALENTO

As paredes vazias do meu quarto
choraram comigo mais uma vez
a angústia da minha frustração.

Não posso já suster a queda,
neste cansaço de lutar,
nesta certeza da impotência.

Alma ferida,
traída,
cruamente traída,
jamais o seu clamor chegará a alguém.

E era a defesa do meu ideal...
que hoje é cadáver
lançado aos abutres.

Só tu és real — INUTILIDADE.

 

GÓLGOTA

Senhor, pedi-te um dia a Tua cruz
e aos ombros ma puseste. Agonizava
a tarde, o aroma, o sonho com a luz...
Amei então a dor que me inundava.

Escuridão tão negra como a cruz...
Hora após hora mais eu me vergava.
E os olhos doloridos nos Teus pus.
Queixou-se a minha voz porque pesava.

Ó Deus, que não calaste o meu grito!
Sinto esfriar-se a vida no relento
das virações secretas do infinito.

 

O CRAVO VERMELHO

Rubro como a tua boca...

Sorvi todo o seu perfume,
perdi-me na cor de lume
que os lábios me requeimou.
Revolvi-lhe as folhas verdes,
desejei-as nos meus dedo...
e o cravo rubro murchou.

Também a esperança fenece
como o cravo que murchou,
ó Deus, dono de infinitos!
Murchou, que a essência da vida,
sabor de planta dorida,
é como um silêncio aos gritos.

 

NA SOLIDÃO

Oh! Vida,
que não te abre para mim e eu quero amar
sem que  os astros entendam sem que o ar
desfolhe uma por uma as rosas
do meu sequestro.

Não me ouço, não me vejo nem me sinto,
não sou eu já quem recorre ao absinto
para morrer comigo... sem matar

E dobro sob a Cruz. É gelo, chumbo...
Caminhada sem fim, mordendo ao vento,
o pó desta subida em que sucumbo.

 

*

 

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Página publicada em dezembro de 2021


 

 

 
 
 
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